segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Isabel Lucrécia

- Mas ela disse que seria só uma vez e você não sentiria nada.
- Tem certeza?
- Tenho.
- Ah então eu deixo, mas só dessa vez, e devagar.
Antes que ocorresse algo Isabel se levantou e correu até o banheiro, ai como estava molhada. Só que desta vez não desistiria, seria demais. Pegou um pedaço da toalha macia e pressionou contra a virilha e todo resto. Não queria deixar transparecer tanto. Volta.
- Deu?
- Deu, estou pronta.
Fechou os olhos e dava pra ver que era a coisa mais macia que sentira em toda vida. Ele parecia estar gostando, não parava mais. E ela, como fazia muito tempo, já não sabia como reagir. Afinal, desde que terminara com o cafajeste, nunca mais foi tocada por ninguém. Havia uma mulher, ruiva, que trabalhava no posto de gasolina da rua Assumpção, e vez ou outra lhe dava indiretas sutis que a deixavam desnorteada. Mas como nunca tinha feito tal proeza, achava que não podia ser assim. De cara, de cara, pegar e ficar, sem nem conversar e conversar o quê? Se mal sabia seu próprio nome às vezes, quando nervosa.
- Acabou?
- Sim.
- Ah.
- Agora a gente pode dormir?
- Você não fuma depois?
- Fumamos amanhã, é cansativo enrolar. Vai, vai dormir Isabel Lucrécia.
E ela achava muito inconveniente esse nome completo dese jeito. Nem sabia se queria mais. A essas alturas, tanto tempo, tanta coisa, tanta bebida, não sentira mais nada. nem aquele ardor típico das longas transadas em que a alergia vem do latex. Nem aquele aroma do mesmo.
- Você é uma bobinha, dessas que a gente engana fácil.
- Dá pra me contar algo que não sei?
- [...]
A melhor amiga que o falou para ficarem juntos, não sente nada, faz alguma coisa, disse pra mim, não sente nada, dizia.
- Nada mesmo?
- Nada, desde que terminou com o outro e com o outro. Eles a preenchiam como ninguém, na verdade nunca foi preenchida. Sabe como é amor de...
- Aham, aham, sei, mas como faço?
- Fala que vai cantar uma música.
- Qual delas?
- Em inglês.
Havia passado uns dias e Isabel Lucrécia voltou de uma viagem. Foram os dois falar com a tal, esperando-a na frente de casa, sorrindo, após tocar a campainha. Ela vem, não fala, ninguém fala, só sorri e abraça. Vira-se e diz:
- Vamos entrar.
Ele parece mais entediado do que nunca ao entrar. Os cachorros ficam ao redor, senta na sala. Não tem TV - ao menos. Mas uns livros nacionais e estrangeiros por toda parte. Na parede um único quadro preto e branco.
- Essas coisas que eu gosto, pode ser uma árvore ou um pulmão.
- Prefiro um pulmão. - diz o esquisito.
Isabel pega chá e fotos, tomam um pouco de chá, olham fotos, comem bolachas e abrem cervejas que já era tempo. Essa sua amiga, a hetero até as últimas, vai embora.
Antes que ocorresse algo Isabel se levantou e correu até o banheiro [...]
O tapete pega fogo ali mesmo.
Bem antes disso, na faculdade, essa Isabel vivia fugindo dos amigos, claro, coisa pouca, mas não suportava a sociedade e esta era a maneira de se testar. Foi então que se conheceram, ela fugindo, falando baixo, tentando se esquivar da própria preguiça de admitir sua fraqueza, ele, só mais uma aventura e sempre a próxima parece a melhor. A fama de mau, ela nunca deu bola mesmo, o que seria fama de mau contra quem tem a fama de louca, sem ser. Ela prometeu que este não a faria rir. Pois rir de qualquer coisa é chato, mas quando algo se torna insano, ela ri, e muito.
O cafajeste a fazia rir, vamos omitir nomes pela eticidade, por qualquer coisa. Mas catou uns discos dela e foi embora, os discos tudo bem, mas nunca o coração, disse. Amargurou. Agora procura consolo em coisas palpáveis porém não tão assim. É tudo bobagem, amor é bobagem, saber é bobagem, viajar, rir, conversar, o que mais então? Só importam coisas que a tragam sentidos inusitados, pois esta alegria passageira já teve suficiente, como a dor de não ser entendida. Foi aí que aceitou se entregar.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Poema da morte sem nome, deseperada!

Às vezes eu queria ser um passarinho
Ele nem sabe o que é viver pronto para morrer
Se o passarinho sofre
Ele nem sabe o que é isso
Só canta, e se está preso, só canta!
Pronto pra morrer sem saber
Um cachorro vive menos do que eu, mas também nem sabe o que é a morte
Só sofre
Como meu cão sofreu
Eu não quero isso, só quero viver
Se for para morrer - que será - que seja tarde - e sem dor
O amor me dói
Mas viver supera tudo!
Só o momento existe!

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Até mais tarde que a meia-noite

Rir de paixão. Você sabe o que é rir de paixão? Quando bate um desespero gostoso, e você ri, do nada? Pois é, eu senti isso uma noite. Mas não passou disso. Era uma coisa fetichista que ao mesmo tempo que dava, puxava de volta, como morder e assoprar. Só que diferente, mais intenso. E quem me garante que também meu amor não ria de paixão? Ou ria de mim? Eram umas coisas sem sentido, que nos propúnhamos a conversar umas coisas e a direção da conversa era outra. Só faltava perguntar do meu cotidiano, bem, até perguntou. Tudo começou em um outono de 2008. Quer saber? No começo não percebi, nem senti nada. Estava preocupada com outras coisas irrelevantes. Faz tão pouco tempo... Não é de se admirar que não tenha dado em nada mesmo, afinal, eu, uma inexperiente. Pois bem, eu nem lhe dava bola, me entediava. Tudo me entediava menos as viagens para praia. Tirando isso e os elogios, ah como me davam à respeito da minha felicidade e dos meus vestidos, nada mais me dava alegria de viver. E comecei a beber mais que o usual. Quer saber? – eu pensava- Vou largar a faculdade. Faltando um ano para terminar... ah... mas aquela noite pouco inferior que nunca vou esquecer começou a virar minha cabeça, e quando foi que eu percebi mesmo? Foi quando falamos do meu namorado... estava na hora de terminar. Me incomodava mesmo, me fazia chorar enquanto bebia então terminei pra de novo nunca mais! Aí eu pensei, das férias de julho não passa. Quanta doçura naquela voz, quanto martírio em mim. Agora sim, voltei à faculdade e tudo está mudado. Mas quando voltei ao invés de um anjo da renascença eu não encontrei mais nada. Comecei a investigar, droga... como pode eu pensei... deve ter um compromisso, ou comprou uma aliança unitária dessas de pessoas anti-sociais que querem afastar os outros. Nossa, como eu pensava coisas que não tinham nada a ver pra não me machucar. Estou no lucro, sorriu pra mim. Sorria quando eu sempre falava, sorria quando me via pela primeira vez no dia, até olhou para minhas pernas enquanto sorria. Como não iria acreditar nisso!? Quanta mentira que planejou contra meu coração!!! Mas aí da última vez o papo foi muito íntimo, muito gostoso e eu caí. Mais uma vez a chance, e passei a sonhar: é assim que eu quero... eu sou a garota mais legal da cidade, não tem como não gostar, ah, fala sério. Olha só, eu sou demais, e lá tentei mais uma investida. Hunf, já era 2009, já era tudo. Pensei que havia esquecido. Aí vi de longe no corredor, agora, por esses dias, eu não aguentei mais ver. Eu senti que tudo aquilo que sentira era mesmo verdade, mas não podia mais olhar. Recuei e tentei me esconder atrás da parede e de alguém menor do que eu. Não consegui, mal consegui dizer oi. Nessa hora o coração já não aguentava mais. Parei e me virei, estava andando à minha frente, feito um imperador ( ou imperatriz) onde nada pode impedir. Ah, eu não vou, até tinha tanta coisa pra falar mas dessa vez não vou. Fiquei olhando sumir no corredor enquanto falava com alguém e gesticulava. Fui andando, pelo ar livre, preciso de ar livre, mato, algo gelado pra beber. Preciso do vento, de algo pra pensar ( ler), e da minha casa. Fui andando sentindo cada passo meu no chão, cada barulho do meu mexer de corpo. Dizendo pra mim, não vou lá, isto é força. Fosse todas as minhas amigas iam, fariam de tudo, derrubariam café no chão, mas iam a fim de dar uma desculpa para falar. Desculpas que chega. Agora consolei, os livros me contaram tudo. E dessa vez, não vai rolar.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Alucinação, leia e não volte nunca mais

Quando se é feia a única coisa que resta são os livros
Livros no sofá!
Quando se é bonita deve-se restar os livros, a cama, o sofá, os vestidos voluptuosos, as meias de liga rasgando sem pudor
Quando se é feia sobra-se a literatura erótica, o imaginário, as velas, coisas subentendidas do cotidiano que nunca terminam em nada
Nada abstêmio
Champanha Boulevar
Livros daqueles de se devorar
Ah Eveline, por quê eu também não sou assim feito a ti?
Feito a ti desconexa
Feito a ti complexa
Mas menos descomplexada do que eu pensava
Menos malvada no teu ardil
Alice também me telefonou
Só que esta não resta nem a sombra
Que também me devorou na meia noite
Gastou seu último tostão na meia rasgada
Passou a mão na noite passada, como lhe sugeriram
Clamem e pasmem como os anjos do senhor são enormes e circunflexos
Engoliu a água que havia reservado por último gole gelado antes de dormir
Anima
Que champagne que é bom não acabou
É só entrar no apartamento e se virar à direita que tem uma prateleira enorme cheia dessas bugigangas que você procura
Mas o martini é muito doce e eu não comprei
Só pão francês
Pra matar a ressaca de amanhã de manhã
Arrependimento, não.
Uma aspirina.
Lenço molhado no pescoço
Pernas pro alto
Banho de piscina no inverno
Lenço molhado e quente na cabeça
Bala de hortelã
E balas de iogurte
Suco de maçã
Coca-cola é refrigerante clichê dos anos todos
Camisas soltas
Roupa de seda
Virei gueixa
Carros a muitos quilômetros sem direção
Tranca
E joga as chaves fora
Transa
Não quero mais nada entrando aqui
Só ler Freud em pedaços antes de dormir
Vocês não querem dizer” diga não às drogas?”
Cadê as drogas para se dizer não?
Que até agora eu não recusei nem emprego!
Aqui tem quantidade suficiente para duas pessoas
Para mim agora e para mim amanhã de manhã
Servindo o rosto feito pose
- pra retrato de revista
E livros que é bom nada

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Chega dessa conversa sem fim...

Ah Eveline! Por quê eu também não sou assim feito a ti?

http://www.revistasamizdat.com/2009/06/eveline.html

segunda-feira, 22 de junho de 2009

Meu corpo novo, firme como o pecado, corpo novo que me sustenta, deleiteia. Meu corpo, meu rosto amargurado, meu gosto amargo do meu corpo, aquele gosto só meu de quando me estranho.
Entrando dentro do meu quarto a ficar pensando nas coisas que me disseram e não me fizeram bem. A qual não dou nenhum vintém, pois nem lhe dou mais importância. Amargurou com o tempo que não dei sustento para alimentar meu próprio amor pela verdade. Doeu. Agora não dói mais. A pensar que não conversarei com aquela nunca mais.
Penso que não merece nem uma letra minha. Um Ah!- ou - Ah! Com licença, tenho que ir pra casa dar remédio pro cachorro.- já seria demais. Muitas letras, muitas palavras. Já daria uma frase de presente, já que deve ser um privilégio muito grande. Privilégio desses que só quem permito que venha me acompanhar saiba do que estou falando. Doeu. Nem uma letra, nem uma palavra, mais nada.
Só meu corpo novo feito pro pecado. Só as coxas rijas, só a pele macia, só a loucura, só um pescoço voltado pra trás, só pra lhe dizer: - Não, mais nada.

sábado, 20 de junho de 2009

Minha dor não passa

Vem
Vem tirar a minha dor por quê a única coisa que me move é a força de se sentir rainha do silêncio
Vem
Por quê a única coisa que tira minha dor é a música feita para não relaxar
Eu olho pro calendário enxergando as novidades [1]
Eu tenho muita coisa pra escrever para semana que vem
Para ouvir depois que está tudo errado, inacabado, confuso, estranho, e já foi tudo escrito
Admira o silêncio
Que a dor não passa ( respira com dificuldade mais uma vez)
Quando eu olho para a cidade é como se fosse tudo meu- olhando do alto do morro
Como se aquilo que olho estivesse cuidando
O que eu vejo são luzinhas, não soluções para minha dor
E aquele barulho distante me trás lembranças
Silêncio, e tosse de novo, e dói a garganta, e eu quero mais água só que ela não desce
Silêncio
Pra calar qualquer um com suas coisas


[1] Já dizia cazuza
O maior amor da minha vida veio igual um furacão
Então eu posso amar quantas vezes quiser!
Depois disse que o coração com o tempo perde o afeto
Quanta bobagem...
Amor é melhor que passear

segunda-feira, 1 de junho de 2009

brincadeirinha

" Em um dado momento de sua experiência existencial, em certas condições históricas, estes, num ato de verdadeira solidariedade ( pelo menos assim se deve esperar), renunciam à classe à qual pertencem e aderem aos oprimidos."
Paulo Freire em Pedagogia do Oprimido

Brincadeirinha de pegar a quinta frase completa da página 161 do livro mais próximo. Até que caiu em uma frase interessante. Apesar de não ter todo o contexto.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Aquário - já que muitos peixes morrem lá

Ela mesma estava no fundo da piscina sem explicação. Deram muitas. Versões aos fatos. Três semanas antes disse que não aguentaria. Aguentar o quê? Ninguém entendeu. Uns dizem que alimentou os animais primeiro, para garantir que não teriam fome até a percepção de sua ausência. Deixando a tartaruga nadando em volta do corpo para fisgá-la, já que ela amava a natureza. Mais nada. Dois meses atrás havia pedido para não amar mais ninguém. e deu certo. Levantava todo dia e dizia para si:
- Sou um coração frio!
E pensava que não sofria por mais ninguém. Seria livre. Livre? O que é ser livre sem ser escrava do próprio pensamento? Ou deixá-lo fluir e mesmo assim sofrer por ele?
Começou a sofrer por não ter em quem pensar antes de dormir. Ficou sem graça. Fantasiar? Não, meu coração não me permite.
Uns dizem que tomava ansiolíticos emprestados de amigos. os convencia a doar uma pequena quantidade e dizia:
- Para emergências.
Não se sabia até que ponto poderia usar. Dizem que na adolescência usava, não se sabia se para dormir, ou para emagrecer. Não sei do que se já era muito, muito magra.
Uns dizem então, em meio a essas tais evidências, que tomou o ansiolítico com a bebida que tomava de costume. Era cerveja, isso todos sabem. Era todo dia em alguns períodos mais alegres. Mas a que me refiro é o steinhäger. Bebida de graduação alta que colocava limões, acerola e açúcar. Muito bom, quando queria agradar as visitas. Também gostava de agradar. Mais um problema.
Outras versões, a dos amigos mais íntimos, dizem que estava olhando para a paisagem ou a grama ( como sempre fazia como forma de meditação) e simplesmente teve uma queda de pressão. Seu corpo foi a fundo, não sem antes a cabeça bater na borda, rapidamente a água entrou pelas narinas. Chamaram-na a noite toda. Mas como era revolta, acharam que era mais uma das suas saídas noturnas. Estranho, sem avisar.
Outros dizem que era tudo isso, só que planejado, não aguentava mais. Os pais dizem, ela usou alguma coisa, não faria isto em sã consciência. Querendo dizer que pelo amor são ela não faria. O problema é que o amor do qual ela procurava nunca foi muito são.
Um amigo íntimo disse, mas foi só um: - Um dia ela fez uma brincadeira, chegou perto da ponte, na parte que a proteção havia se partido, colocou uma das suas fininhas pernas dizendo rindo nervosamente: " Eu não tenho medo", para não cair não puxei-a de volta pensando que no susto poderia cair.
Realmente, ela não tinha medo, nem um sorriso, nem um amor, nem um gesto de carinho do qual esperava há anos.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Mas deixa a menina falar

Me disseram que você anda desmaiando, eu sei
Que bateu a cabeça
Quis tirar coisas dela
Que andou rolando estrada abaixo tendo convulsões
Que não chegam a durar um minuto, mas sufoca tua garganta
Me disseram sobre a sua agonia sem fim
Uns chamam de ansiedade. Para ansiedade se tem ansiolíticos
Você chama de agonia
Até disseram para não gritar contigo para o coração não acelerar
Até que tenha acelerado muito nessa vida
Agora sente, já é hora de parar.
Anda com tonturas nos corredores da escola, da casa, na rua anda se apoiando ( esgueirando) a ponto de ser o suficiente para não cair
Ah minha boca seca
Ah minha solidão, me dê um copo d'água para me abrir a garganta à força
Que já gritou por revolução e agora não grita mais
Grita por socorro por quando o corpo cai na cerâmica fria
Ainda dizes: "Não é nada, é a pressão..."
É a pressão...
Desculpa para não incomodar
O peito não dói mas incomoda quando acelera
Como se seus desmaios fossem cenas soltas no cotidiano para chamar atenção
Até que viram e acreditaram que não era mentira
Foi feio, muito feio, se assusta sem ver
E sente calor, não chega a ser torpor porquê é ruim
É psicológico, dizias, enquanto a garganta fechava
Garganta fechada
No piso, chapada no chão

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Regresso progressivo de maldade de verdade

O progresso chegou lá!
Nenhuma planta nasce mais
Eu vi com meus próprios olhos
Os pneus dos carros devastando e pingando óleo
Passaram o asfalto
A população diz que isto é muito bom
Acaba em parte com o pó da cidade
Aquele que não me prejudica e me faz espirrar
A canção preferida deles é o caos
Sirene, buzina, motor
Já que os pássaros são poucos longe das gaiolas
o progresso acabou com minha esperança de viver um novo dia livre de verdade!
Prestei contas ao progresso à medida que me atinge
Não vá lá
Não faça isso
Isto, eu sei, é imoral
Mas eu faço pior...
Eles deviam dizer isto antes de acabar comigo
Nunca tão só em toda minha vida
e ainda querem que eu faça como eles
jogando lixo pela janela, furando fila, rindo dos outros nas suas falhas ou não, tentando parecer belo por fora
Impedindo o que se quer fazer
À medida que o progresso me faz mal

segunda-feira, 27 de abril de 2009

De madrugada, depois do vinho e dos desenhos.

Ai mãe, como essa borracha apaga bem
esse desenho errado que eu fiz
É a melhor borracha que usei
Apaga tudo que não esqueci
Como essa borracha me faz esquecer tudo...
Como essa borracha me alimenta o coração
apaga o que dói
Como essa borracha me alimenta
Fica tudo branquinho
nem um borrão fica
nem o resto da massinha
Ai mãe, como tu me complica
Já disse que não dá
Isso vai ter que acabar
Eu sou assim
Desenho, apago e escrevo novamente
Isso é alto
não é libertinagem.
A borracha apaga bem.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

lavatório ecomajestic de quem nunca se tocou de verdade pra sentir

Ela ficava se lavando, e se lavava muito, por que dizia que se sentia livre, e que quando fica com as pernas abertas assim é para se sentir melhor. Ela se lavava nem que fosse de manhãzinha, só da cintura para baixo depois do café. Lavava e se esfregava pra ficar limpinha e dizia que era bom. Depois saía do banheiro com a cara mais sem vergonha do mundo e pensava: -Já fiz minha toilette !! Ia para o quarto ler, quando estava bem da cabeça. Ou desenhava, escrevia teorias que não valem nada!!! Nem uma foda, pensava. Ela se lavava antes de se deitar, e se lavava muito antes de transar. Eles diziam, não precisa, te quero assim, não ela respondia, eu suei, minha virilha está molhada. mas e eu te quero assim, respondia. E depois de transar também se lavava, pra tirar o cheiro do latex antes de dormir, e se tocava o que ardia. Fechava os olhos e sentia as coisas do dia correrem pelo ralo feito clara de ovo. Quando acabava a água, ela sentava na bacia, despejando água quente e se lavando devagar. Alívio. Agora se sente livre.
É como aqueles jovens casais que permanecem no tempo andando agarrados como se fosse a primeira vez
e um dia foi.
Pra nunca mais se repetir e tentar repentinas vezes outros gestos do amar
e quem sabe tentar o que nunca tentou
Eu um dia fui.
Fui pra nunca mais voltar
Como aqueles jovens casais que dão beijos quilométricos e depois um deles embarca no õnibus
É tudo silencioso

terça-feira, 21 de abril de 2009

Na segunda adolescência

Diz que entra na roda sem fim
Diz que tira a roupa toda só pra mim
Me disseram que o amor é uma coisa que ainda não senti de verdade
frio na barriga, malemolência, coração disparado, que senti numa leve graduação
Toda a noite eu saio como se procurasse uma sensação que nem sei qual é
E ela nunca vem...
Me disseram que o amor é como não pegar em nada
Quando se pega em tudo...
Me disseram para não confundir com o ego, como me disseram...
Nunca procurei o amor ao ponto de correr
ao ponto de determinar um ponto de partida
Já que essas coisas se chegam aos poucos
Quando não se espera corar de alegria!
Invadindo o cotidiano um do outro, com permissão
Como se o amor tivesse um endereço
Que não consigo encontrar
Como se encontrar uma noite, para provar quem sabe um dia o que não se espera?
Me disseram que o amor é a roda sem fim
Vindo toda só pra mim

quinta-feira, 19 de março de 2009

A cerveja que eu tomo antes de dormir não me alegra mais
O que eu uso já não me satisfaz
Talvez andei pensando demais...
Meu bem, você não está na minha, e nem quis me entender
Eu sei, andei tomando álcool demais, mas é que eu só queria me perder

terça-feira, 3 de março de 2009

na high depression, pra não dizer que sou fria e calculista um conto:

Bem, as teorias, por incrível que pareça, me doem o coração. Ah por quê? Elas me alimentam a revolta pelo mundo cada vez mais. As minhas, as suas, as dos outros, a da sexualidade, a das pessoas do interior, das drogas, da literatura quanto análise histórica, da sociedade machista ( não vem com essa que alcançamos grandes mudanças), do financeiro, das tribos urbanas, das árvores... pra mostrar que por trás desses olhos de quem já se amargurou suficiente para desistir, vou contar um conto bem curtinho. Desses que dão vontade de sair por aí para esquecer tudo isso. Por quê me dói, oras.

Ela para o carro, salta, se aproxima do muro e diz em voz alta:
- Vamos para os campos?
Do meio do jardim Elisabeth responde:
- Vamos. Mas quando?
- Agora!
Elisabeth larga o chapéu de jardim em cima da mesa, entra, sai logo em seguida. Tranca a porta.
- Olá Teodora.
- Oi minha querida. - beija o rosto e liga o carro.
- Trouxe algum dinheiro. Depois preciso que pares em algum posto. Preciso comprar água.
- Tem um posto ali antes de pegar a rodovia. A menos que queiras ir pela estrada velha.
- Hum, até prefiro [ fazendo bico]. Acho mais divertido - mexendo no rádio. Música mexicana. Troca. Música sertaneja. troca. Elis Regina.
- Elisabeth, seu jardim está alto. Quem planta as gérberas? Você?
- Eu e minha mãe.
- Sua mãe está bem?
- Está. Ela não gosta de ficar sozinha.
- Mas você não fica com ela?
- Fico, mas às vezes torna-se cansativo.
- Pobrezinha...
- Pobrezinha do quê?! Ela que escolheu não fazer nada!!!
- Pobrezinha de ti.
- Ah... vire à direita na próxima rua.
- Ammmm...?
- Vire à direita. Tem uma mercearia, preciso comprar água.
- Preciso compra água ( debochando). Não tem água na sua casa não?
- Se é para me diflamar por quê me trouxe?
- Não estou diflamando. Só acho engraçado.
- Ah...
O carro vira à direita. Pára logo adiante. Elisabeth sai. Logo em seguida volta com a garrafa d'agua.
- Quer?
- Não. Obrigada.
Liga o carro, sai lentamente. O carro desaparece no horizonte.

Sentiu o vazio?

sábado, 28 de fevereiro de 2009

umas vezes na vida, daqueles amores...

Era um daqueles amores arrebatadores que aparecem algumas vezes na vida como se fosse pela primeira vez, como quando se diz: nunca senti coisa igual em toda minha vida!!! E depois do abatimento, tudo se recupera, tudo passa. Vinha sempre tão rápido a sentar ao meu lado e falar coisas que me faziam tão bem... oh meu bem....
Com sorrisos que me deixavam muda e pôr a colocar sorrisos também, por quê não? Se parecia tudo tão sincero e eterno, e se acabou, e se acabou...
Era uma daquelas noites quentes de um verão infernal que a gente se encontrou por acaso novamente, nem me deu bola... nem falei nada por quê não conseguia, meu corpo tremia, aí eu falo besteira, por quê o impulso nervoso dá uma descarga estranha de sentimento na gente. Aí disse para entrar em contato. Entrar em contato? Era só para me enrolar, percebeu que eu estava a fim e pôs a me enrolar, mesmo dizendo outro dia que isto não queria, e que se fosse para dar meia voltas eu seria a primeira a saber, a saber o quê?
Melhor não saber...
Veio com aquelas perguntas de sempre que me deixam sem resposta criativa de tão obvias como: sim, não, murmúrios e talvez.
É verdade? - rebatia.
Aham... - murmúrio
Veio com seus gestos bruscos e aparência juvenil, como se fosse ainda, e não é?
Veio com as palavras que me alimentam a imaginação, palavras que alimentam.... Do nada tiro as evidências, acho que terás que provar pra mim. Provar tudo que sempre quis experimentar, algo novo, diferente. Quando a gente tem 24 anos e jeito de adolescente pensa que ainda tem muita coisa pra se descobrir na vida, até estando cansada dela.
Esse amor que não me sai da cabeça, essa coisa que me faz tão bem, que me dá motivo!!! Entende o que eu quero dizer com motivo??? Eu não, mas é só isso que me move, motivo de amar...
Eram daquelas pessoas que se fazem de indiferentes com presenças extravagantes e tímidas ao mesmo tempo como a minha, que olham para as minhas pernas fingindo não ver, que cruzam pelos meus olhos querendo cruzar outra coisa, tem os mesmos ideais, que tanto lutei por eles...
Eram daqueles...

Sobre doces e ciúmes

Estou pintando as unhas de vermelho para te esquecer
Acho que vai ser bom escrever
Você vai voltar para aquela mulher que só te faz doces! Te enche de doces! E de strudel de maçã.
Coisa que não sei fazer
E eu sou lá mulher de encher os outros de doces?
O que mais ela te preenche?
Além do estômago
Por quê eu não quero me gabar
Mas eu, ah eu sei, conheço muitos lugares
Sei de muitas coisas que você não sabe
Já ouvi muitas músicas e posso te contar tudo que se passou nesses livros que eu li
E todos os filmes da minha vida que gostei e não gostei
Desenhar os quadros que tanto já me pediram
Contar as histórias não!!!
Te colocar do meu lado para vivê-las comigo
E podemos fazer diversas análises e as mil maneiras possíveis de se amar
Você ainda pensa no strudel? Nos doces?
Que ainda posso te levar para esses lugares?
Se permitires...
Te contar todos os meus segredos que podem vir a serem úteis para ti, ou quem sabe que é necessário saber
Por mim
Eu canto, assovio e ainda sei interpretar
A minha astúcia chega a ser sensualidade
As minhas pernas- intocáveis- chegam a parecer borracha de tão moles
E ainda pensas nos doces.
De mim não precisas esperar que eu te enche a barriga
Nem teus olhos de felicidade
Ou teu coração de desejo
Que prefiro que não esperes nada de mim
Para não criar falsas expectativas
Eu ainda vou gostar de ti
Mas eu, ah eu sei, posso decepcionar qualquer um
E se algum dia teu coração se sentir disponível para tais conseqüências
Aí sim poderás me telefonar a qualquer hora
E mesmo assim eu estaria esperando
Ora veja, tem coisa melhor que a ligação casual do seu amor?
Para falar de coisas que nada são do coração
Por quê dessas coisas não se falam!
Semana passada mesmo eu tentei falar
Sabe o que aconteceu? Tremi. Fiquei muda.
A mãe chamava: Alessandra!
Eu sentava na mesa e ficava muda.
Eu sentia o frio nos olhos das pessoas sozinhas e mau-humoradas
Dessas como eu que se dizem felizes no seu mau humor: competentes consigo mesmas.
Dessas como eu que riem de coisas que ninguém ri
E não param de rir
Ora vejam senhores, competentes!
Só por se dizer controlada, como se isto bastasse
Como se bastasse pesquisar o preço no supermercado
Sem saber por quê as coisas aumentaram
E coisas mudaram
Mas o cheiro do açougue continua o mesmo
A perfumaria continua sendo minha sessão preferida
Depois da padaria
Até esqueci que estava pintando as unhas de vermelho
Para que mesmo?
Ah, para escrever
Sobre doces e strudel de maçã[1].


[1] Strudel é de maçã, ou pêra.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Hoje: pé na estrada !

Minha tenra lucidez

Quando a perderei mais uma vez

Quantas vezes a quis jogar fora e você sempre volta

Parecendo que não vai embora, só vira no máximo dor de cabeça

E eu quero que sumas antes que me enlouqueça

Por quê minha lucidez quer me enlouquecer

No máximo me perder

No mínimo me fazer sofrer

Então venha

Que estou doida para saber como fico louca

Só de pensar na sua demora

Você que está errado! Saia já do meu quarto!

Venha, quero lhe mostrar minhas coisas

Eu vi facas, pontas, estiletes, vidros quebrados

Eu sou a donzela de ferro e vou seguindo seus passos

Ao menos que pare nas esquinas sombrias

Talvez volte à sobriedade

Ah não, já sei o que significa isso...

Minha boa sanidade

Você que tanto me faz bem agora faz esses planos malucos na minha cabeça

Já falei que sou muito louca para você

Esta noite tentou me perseguir de novo

Tomara que não me pegue no sono

Te esperei a noite e madrugada inteira e nada

E quando a noite termina e chega o dia minha lucidez volta como antes

Que nitidez! Vejo tudo agora com nitidez!

Só me falta saber por quê minha loucura não me quer esta noite

Tanto que lhe alimentei

E você mais uma vez some há muitos anos

Eu disse: - " E quando o sol nascer!? Você vai estar onde o sol nascer?"

Nem quero saber um pingo de suas maldades

Por favor, não me faça fazer alguma coisa

E eu querendo sentir suas verdades

Só para dizer para mim: - " Eu sei como é o bem e o mal"

É a loucura

Ou a doce sensatez

Que tanto faz pensar com calma e pensar mais e demais

Não sei o que é pior, minha doce querida

À mim mesma

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Um caderno datado no ano 2000

Mãe, acho que não era para ter nascido
Por esses dias estranhos talvez era pra ter morrido
E eu não quero morrer, e meus filhos?
Que filhos?
O mundo anda tão complicado comigo...
... ou seria eu com ele?
O meu mundo
Acho que nasci no dia errado
As coisas já eram para ter acontecido
Ou para terem esperado
Você sabe, eu já falei
Estou em dois anos de atraso e dias além
Mãe, você sabe que o Brasil é o país do futuro?
Sabia que eu não sinto afeto?
Ah estou com raiva
Baudelaire me completa porém diz coisas horríveis
É sempre assim com quem me completa
Talvez sou em quem balbucia coisas horríveis
Cartas de horror, impropérios ao telefone
Sabe, me lembro do tempo que eu disse que sentiria falta por quê sabia que estava feliz de verdade
Continuo feliz, mas às vezes... intensamente melancólica
E meu melhor amigo é a solidão
É por quê ninguém fica ao meu lado, mãe
nem você
E quem fica, eu quero fugir, mando embora e sou grossa
Digo que o homem por si só não basta
E que é preciso tornar a vida bela! A vida bela!
Janelas coloridas, vermelhas, azuis e amarelas
Para a vida bela!
Meu coração não me pertence

De uma garota de 16 anos que se perdeu no tempo- e eu ainda a procuro no espelho.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Café Majestic apresenta:

Triste
Eu sou a moça triste
Que toma o café devagar
Enquanto espera o tempo passar
A moça triste daquele quarto de janela meio aberta pra pegar um ar
Que dia desses disse coisas de que não gostava, pra variar do que gostava?
Moça triste na varanda de madrugada
Moça triste que não faz nada
Gosta mesmo é de passear
Sem ninguém nem ter hora pra voltar
Aí não adianta reclamar da tristeza de tomar café sozinha
Enquanto chove e pensa: o que eu vou fazer agora?

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Amélie em: Encontrar o ex-namorado e ele pedir pra tirar o biquini na praia não é uma boa.

Na primeira meia hora ele ainda era divertido. Com seu humor bobo. Não é aquilo que possa chamar de humor inteligente, mas também não é de todo mal. Depois de meia hora o assunto se esvaiu. Passei a perguntar coisas da vida, daquelas que se perguntam à parentes. Fomos dar uma volta. Eu, para ver se desentediava. Sou muito feliz comigo, posso achar tudo maravilhoso sozinha. Mas ele disse que se sente um saco. Alguém assim não pode ser muito divertido mesmo.
A verdadeira mentalidade moldada pelo sistema.
- Estais assistindo ao Big Brother?
Amélie - Eu não!
Pausa
Amélie - Queria te mostrar umas músicas.
- O que eu quero eu ouço no rádio.
- Vamos ver um filme?
- Aluguei um e nem assisti.
- Qual?
- Narnia.
- Queres ler isto que eu escrevi?
- Humm, não consigo me concentrar...
- Estais lendo alguma coisa.
- Não. lembra que quando a gente namorava tu me deste um romance gay pra ler?
- ?
- O Uivo.
- Ah, era poesia.
- Como que tu querias ficar comigo se me desse um romance gay pra ler?
- Peguei na biblioteca. - enruga a testa.
Começa a pensar sozinha de novo:
Perdi a vontade de dar os " beijos kilométricos".
Na rua ele era um escândalo. Morria de vergonha. Falei para ficar quieto. Perdeu os trocados do refrigerante. Comprei. Parecia que eu era sua mãe, tinha que estar cuidando o tempo todo.
Aquilo foi me consumindo. E eu abafando o sentimento angustiante. Nadar era uma maneira de esquecer tudo isso.
- Espera um pouco, meu biquini está caindo!- se abaixa na água e ajeita.
- Não sabes nadar?
- Sei. Até já participei de campeonato. Só não ganhei. - tenta nadar um pouco e pára para ajeitar o biquini.
- Tira!- vindo pra cima.
- Não quero. Todos váo ver.- afasta.
- Faz topless - pra cima de novo.
- Não!!!- histérica. Começa a nadar para trás.
- Mas eu quero. - se afasta um pouco, tira a bermuda e começa a girá-la na mão.
Amélie finge que sente indiferença para não incintá-lo. Ele enrola a bermuda em forma de uma bola e diz ao mesmo tempo que joga para Amélie:
- Cú voador!
Ela começa a rir e joga de volta dizendo:
- Tem que jogar assim- joga com uma mão só.
Tomara que não mexa com as pessoas... pensava. Ela sai da água e ele vem atrás tentando aparecer o tempo todo.

Nisso desvia a cena para o horizonte e Amélie aparece na cozinha, falando com a amiga:
"Não aguentava mais aquele humor sem graça que se tornou. Me dava tapas nas pernas como se agradasse. Desviava fingindo que era só para pegar gelo pro steinhäger.
Ele perguntou do que eu gostava de fazer. Respondi na lata: Passear!
Ele não gostava de nada. E só conhece música de baixaria.
Chegamos na minha casa e pus a água para o café. Em cinco minutos minha mãe chegou. Ele disse que ia embora e era para eu ir junto. Eu falei que preciso de um banho. Ele disse para eu não gritar que não é meu empregado.[sic] Eu disse que não poderia ir. Ele falou que me esperava até o ônibus vir. Falei que tudo bem.
Ele saiu do portão e nem olhei para trás. Entrei dentro de casa e olhei o relógio. 18:20, não o aguentava por três horas. Comi e fui dormir. "


PS. Ainda vou fazer a análise histórica do Um Bonde Chamado Desejo.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Sugar

Dias felizes aqueles em que se comia açúcar
Se bebia vinho, tomava cerveja
Comia bolachas, tomava nescau
Dias felizes aqueles em que nada se sabia
Felizes daqueles que não sabem
Dias felizes quando se enchia a cara sem culpa
Se tomava cuba, tinha lexotan
Se tinha torpor
Saía do banheiro dançando
Com a cara branca, os olhos baixos
A fala mansa
- Me dê mais uma cerveja por favor
- Give me a beer
Se bebia de graça
É muito bom ser novato
Pensar que o mundo está aí esperando por mim
Ele nunca espera, ele vacila
O mundo mata
Mata com horror, com injustiça, com violêmcia
Nunca é bom
Ao menos que se deixe viver
Mas um dia ele não deixa
Clama por amor
Clama por carinho
Não ganha
Talvez nem exista e eu nem sei
Give me a double drink too
Ou enlouquecerei como a maioria
Que como eu pensa demais o que não deve
Seqüencial
Don´t give me
Espere por mim; não espere por colocar açúcar no café


Alegria galera!!! Música de praia!!!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A Pomerana

O dia estava fresco. Blanche estava se arrumando para ir à Festa Pomerana. Ela entra na sala tomando café e mastigando algo, abre a agenda enquanto pega o telefone e disca o número ao sentar na cadeira. Convenceu a amiga, que nada gostava desse tipo de festa.
- Aprenderás a amar essas coisas também!
Blanche gosta muito de vestidos, mas como sabia que lá teriam muitos, colocou short xadrez com casaco preto e sapatos de boneca. Não se maquia. Passa pouco perfume, só nas pernas. Para o aroma de espalhar com o movimento, pensava. E foi ao mercado vender passagens de ônibus.
A tarde caía com uma leve garoa fina. Durou uns minutos.
Na rua passa um cara de bicicleta que diz oi. Ela não responde imaginando que aí ele vai incomodar. Ele ameaça:
- Não conhece,mina?
- Não. – fazendo cara de séria.
Ela anda devagar para aquele bicho feio ir embora. Deu certo. Entra no mercado e diz ao caixa:
- Vim vender passes- contando-os em cima do balcão.
Em frente tem estacionado um fusca branco, modelo 70 original, que ela fica namorando durante todo o acontecimento.
- Lindo fusca.
Não responde. Ela pega o dinheiro e agradece. Vai andando devagar por um quilômetro, até encontrar Lilly.
- Estais muito tempo me esperando?- sorrindo.
- Não, dez minutos.- também sorrindo.
- Consegui dezesseis reais, vendi passes. Mais cinco da minha mãe.
- Eu também, tenho trinta.
- Pensei que o ônibus tinha passado. Mas era Presidente Getúlio.
- Presidente Getúlio sai antes ou depois do Pomerode ?
- Não sei. O Pomerode sai seis horas do Beco Araranguá.
- Ah... Onde é isso?
- Terminal Fonte.
- Mas agora são seis e vinte, estou aqui desde as seis.
- Ô, tá sussi. – balançando a mão pra baixo.
- Vou fumar um cigarro, chama ônibus.
- Não, fuma depois. Vais ter que jogar fora.
- Não faz mal. É só acender que o ônibus vem. Está na hora de fumar mais um.
- O ônibus! Vem! – dá uma risadinha de felicidade ao ver o ônibus de longe e olha pra Lilly. – Vais se sentir em uma viagem. Vai ser tudo muito divertido!
- Minha irmã disse que é uma aventura! – guardando o cigarro.
- E é mesmo... Até o ônibus parece de viagem...
Elas sentam em um banco mais alto. Blanche mostra todas as casas que já tirou fotos e que quer tirar. Todos os bares, postos de gasolina com conveniência e pastos que já entrou. Chega a interromper a conversa para mostrar. Começou a chover, mas ainda demonstrava muita alegria. Só demonstrava medo ao ver os desbarrancamentos na estrada com lama e pista molhada. Mania de pensar no pior.
Ao saltar do ônibus Blanche olha o cobrador com um pequeno sorriso e diz:
- Pra onde é a festa?
- Entra nessa rua aqui. – Aponta.
- Obrigada- e começa a falar baixo- Visse Lilly como ele fala bonitinho...
- Aham...
Passeiam pela cidade. Falam muito. E alto. E riem. Passam carros buzinando. Rapazes falam coisas. Dizem que querem bailar.
- Esta foi pra ti Lilly. Estais de saia. Quem baila usa saia.
Lilly usava uma saia de veludo com flores e corselete, em homenagem à festa.
- E se me convidarem pra dançar? Eu não sei dançar? Como faço?
- Ah é só imaginar uma música na cabeça, e não tirar, assim: kleine kleine kleine kleine chopps! –ela faz um soco no ar e começam a rir.
- Eu vou só acompanhar a música.
- Isso, acompanha a música.
- Minha irmã disse que nunca se deve negar uma dança. Por quê a pessoa teve que criar muita coragem para pedir para dançar.
E Blanche faz tudo sempre muito errado por quê fica dando voltas nos quarteirões ao invés de seguir reto. Sobe em uma passarela só para olhar os carros passando embaixo. E tem a crise do romantismo:
- Olha que flor linda/ olha a casa de tijolinhos/ olha o tom desse rosa/ olha a igreja/ entra nessa rua/ tenho uma bússola na cabeça/ ah não, enxamelóide não......
Param para tomar uma cerveja e logo saem. A festa estava bombando, como se diz. Parecia tudo muito bonito e apetitoso aos olhos de Blanche:
- Não imaginei que fosse aqui...
- É... Tua bússola falhou...
- Não tinha pensado nisso...
Segue hipnotizada à bilheteria.
- Oi, fazem ingresso de estudante?
- Não.
-Só inteira?
- Só inteira.
- Quanto é?
- Dez reais.
- Dez reais, Lilly.- se virando.
- Até dá...
- Melhor pensar.
- Vamos andar um pouco...
Vão andando na rua e fazendo cálculos.
- Daria para tomar vinte pila de chopp. Vinte reais é muito dinheiro. Fosse dez.
- Tem polícia pra tudo que é lado.
- Parece que olham pra gente.
- Parece né...
- Aqui não dá pra fumar. Vamos entrar nessa rua. Se tivesse outra maneira...
- Essa cerca não tem arame farpado.
- Mas tem outra lá embaixo.
- Não, não tem. Pula essa e está na festa.
Ficam em silêncio por um minuto.
- Blanche!
- Ah... – suspira.
- E se a gente negociasse com o cara do estacionamento?
- Não quero levar um fora. Vai negar. E depois se negar, vão saber, e vão ficar em cima.
- Aqueles lá também vão pular.
- Sério?
- Não... é uma família...
- Ah... Nossa.
Silêncio novamente.
- A gente poderia pular aqui que está mais escuro e descer por ali.
- Ou vamos até o final para ver.
- Não, vai ser ruim de voltar. Assim a gente se mistura logo na multidão.
- Vamos fumar pra pensar melhor?
- Podemos entrar nessa casa abandonada.
- Faz muito tempo que não faço isso...
Ficam vinte minutos fazendo estratagemas, decorando os passos, tremendo, pensando: Pula ali onde tem o apoio... entra no mato... vai descendo.... faz assim com a perna quando for pular.... se nos pegarem chamamos sua mãe... não, melhor nem saberem das mães...e assim foram planejando. E às vezes também riam por quê diziam-se mulheres guerreiras. E que podiam pular sem ajuda de um homem! Nas outras vezes os namorados ou primos ajudavam. Davam as mãos para que colocássemos os pés e empurravam como fosse grande coisa. Temos que pular ao mesmo tempo, diziam, para não ficar para trás. Sem rir ou fazer escândalo. E Blanche sentia náusea, não dizia. E voltava a rir, dizendo piadas de hoje eu vou pular a cerca!
Saíram da casa e vinha um casal.
- Casal sempre parece inofensivo, incrível.
O casal cruzou a esquina e as duas foram até a outra esquina garantir a cobertura.
- Vamos!- disse Lilly.
- Aqui mesmo?
Não responde só foram subindo. Colocam as mãos ao mesmo tempo na estaca, e ao mesmo tempo pulam. Uma acompanha o movimento da outra. Entram no mato. Blanche fica em meio à urtigas e espinhos. Arranhando sua perna. Mas pula devagar para dentro mesmo assim. Já descendo o barranco.
- Vai devagar Lilly, estou tremendo...
- Eu também, não consigo parar de tremer... estais bem? Tudo bem?
- Tudo. Só me arranhei um pouco.
- Vamos descer por aqui. E saímos atrás do jipe.
- Ai, espera, deixa eu ver minha meia.
- Só estou arranhada, mas não faz mal. – se olhando. – Meu coração que está muito acelerado.
- Vamos indo devagar...
- Aproveita que o ônibus está saindo.
Acelerou o motor velho e saiu uma fumaça negra. Famílias dirigiam-se aos seus carros. A música aumentava.
- Vamos ao banheiro.
Foram se misturando em meio à multidão, Blanche olha o segurança, estático. Estavam dentro e se deu conta. Ela começa a rir sem parar. A música é muito alta, tudo é lindo, agradável e alegre. Ela diz alto:
- Isto que é amor! Isto que é amor pelos bons costumes!
- Hahaha. – fazendo sinal para andar.
Segue andando. Quase entra na cabine do banheiro.
- Ah eu nem quero fazer xixi.
- Vamos só se olhar pra ver se está tudo em ordem.
Saem do banheiro alegres sem se olhar. Blanche tenta se comportar. Não falar alto. Fazem o reconhecimento do local.
Ah... não gostei.
- O quê?
- Aqui não tem tiro!
- Ah, então vamos embora!
Riam sem parar.
Vão ao caixa comprar bilhetes de chopp. Param na fila.
- Parece um filme!!! Tudo parece um filme!!! – Blanche fica quase histérica de felicidade.- O filme de nossas vidas!!!
- Não é o ápice?
- Sim... e se não entrássemos seria o fundo do poço!- gargalhava
Pegam o chopp ainda desajeitadas. Não sabem para onde olham primeiro
Param para ouvir a bandinha. Atrás do palco. Para tomar ar.
- É sempre o mesmo ritmo Blanche?
- É... – apenas olha.
Começa a tocar uma paródia do kiss.
- Ah olha ali, só o que faltava. Rock com bandinha... hunf.
- Eles não sabem tocar rock.
- Nem combina, quero sair daqui.
Vão falando, gesticulando e apontando com uma mão e bebendo na outra.
- Vamos ao parque? – já entrando
- Vamos...
- Olha tem o tiro do parque.
- Queres tentar? É só derrubar o ursinho que tu ganha.
- Quero aquele moranguinho.
- Mas ninguém derruba nada!
- Claro, são picaretas, os bichinhos estão colados!
- É! Só pode... Tudo colado!
- Ninguém me faz de trouxa. – mal humorada
- Vamos na roda gigante?
- Não sei...
- Queres ir em qual brinquedo?
- Nada de vomitar!
- É... vomitar não é bom...
- Essas coisas que giram me embrulham o estômago só de ver...
Blanche olhava para a roda gigante que tinha acabine toda fechada, claustrofóbica segundo ela, e girava muito rápido. Se virou e foram andando em direção contrária.
- Tem essa montanha russa.
- Está enferrujada. Parece a montanha russa condenada.
- Essa minhoca... Eu não gosto do carrinho de choque, batem na gente de propósito.
- Minha mãe dizia que é perigoso, pode deslocar a nuca.
- E o trem fantasma? Vamos no trem fantasma?
- Ai, trem fantasma?
Tabela de preços : Um ingresso : R$ 3,00
- Os outros são de criança...
- Ui, esse é de passar mal... – enruga a cara e aponta para um brinquedo imitando uma centrífuga – Eu não deixaria meu filho ir nesse, se eu tivesse um. Ao menos faria tudo para não ir. Olha! Não tem nem cerca de segurança! E se uma criança hiperativa se joga embaixo do brinquedo? Morre. Não tem nem o que fazer. Eu não traria um filho meu para uma festa numa hora dessas...
Já estava ficando bêbada, falando sobre educação de filhos e planejamento familiar enquanto olham as pessoas tentando derrubar as latinhas chutando a bola. Tudo truque. Tem imã, dizia Lilly.
- Olha! Um bosque! – esquece completamente a idéia anterior.
- Esse é o corredor que os casais namoram.
Chovia e as gotas caíam grossas vindas das folhas.
- Será que não vão achar que a gente pulou a cerca por aqui?
- Melhor ir embora.
Se misturam na multidão e vão para um elevado. Arrumam uma mesa de canto. A única vazia.
- Tivemos sorte, a outra toalha estava molhada.
. Blanche suspira o tempo todo na sua alegria histérica:
- É tudo lindo! Veja as fitas, brancas, azuis... Que ambiente maravilhoso!!!
Em cima das mesas tem uma luminária de tecido, xadrez azul como a toalha. Ao redor é de tijolinhos à vista. Não falam nada. Apenas bebem. Blanche finalmente observa cada um, ouve a música, identifica os grupos. Calma e paulatinamente:
- Está vendo aquele casal?
- Ammm
- Ele nem dá mais bola pra ela, prefere falar com os amigos. Não gosta.
- Gosta sim. É que devem estar há muito tempo juntos.
- Estão enjoados da relação.
- É assim mesmo...
Observam mais um pouco. Bebem.
- Eu vivo falando que não quero mais ter celular, para me isolar. Não depender da tecnologia. Mas agora eu queria ter, para contar para alguém que estou aqui!
- É...
- Vamos comprar mais chopp? Está acabando...
- Pode deixar que eu vou.
Lilly demora mas Blanche não se importa. Gosta da solidão.
Uma mulher senta na cadeira. Blanche diz que a amiga já vem. A mulher diz que quando vier sai. Blanche agradece.
Lilly sobe o elevado sorridente. Trazendo os bilhetes. A mulher levanta e senta novamente. A amiga ao lado que manda sentar. Lilly chega e as duas saem de imediato.
- Desculpa... Eu demorei...
- Não me importo.
- É que eu dancei! Eu dancei! E com esse cara ali!
- É sério?
- Pssss, a namorada dele não pode saber. Pediu meu telefone! E eu dei!
- É?
- Dei! Hahaha
- Falei que estava enjoado da relação. Dificilmente me engano.
- Vamos ver se vai ligar...
Blanche se levanta para procurar comida. Começou olhando para todos os lados. Pediu informação e atravessou o pavilhão até achar.
Pastel : R$ 2,00
Cachorrão com duas salsichas : R$ 4,00
Ah, salsicha não, pensou. Ainda mais essa salsicha condimentada como deve ser. Pegou pastel. Na volta mais observações. Pessoas com uniformes estilizados que chegavam a serem feios, com saias curtas para mostrar as pernas. Os casais na pista de dança iam abraçados todos na mesma direção no sentido anti- horário. Não sabe como não ficavam tontos. Cuidava para o pacote não cair.
- Oh, demorei, mas achei pastel por dois reais.
- Ahhh
- Gosta de frango?
- Gosto.
- É de frango. - apontando
Terminaram de comer e de tomar o chopp que estava na metade.
Atravessaram a multidão. Blanche parou em frente ao palco. A criança que dançava sorria para Blanche.
- Eu não preciso fazer nada para as crianças gostarem de mim....
- Ela é treinada para isso, desde pequena.
- É, mas está feliz.
Foram andando aleatoriamente. Encontravam pessoas, Mal conversavam. Foram para o bosque. Chegaram uns meninos, menores de idade. Falavam, andavam junto, enchiam o saco. Saíram e ela foram sentar no quiosque. Em dois minutos veio um grupo de garotos fazer amizade.
- Oi.
- Oi.
- Vocês são da onde?
- Blumenau, e vocês?
- Eu nunca vim pra cá...- diz Lilly.
- Pomerode.- responde o rapaz de boné.
- Ah, daqui mesmo...
- É...
- Nós pulamos a cerca para vir pra cá!
- Nossa!! Tem que mais é que pular mesmo!
Os garotos estão preparando o fumo. Chegam duas garotas de mãos dadas. A mais magra chega falando:
- O que é isso?? Meu negócio é cocaína e ecstasy!
A outra começa a andar para trás.
- É a minha irmã, dá nada.... – diz o rapaz de boné, sorrindo.
- Soubesse o que é cocaína não falava uma coisa dessas. – diz Blanche com desdém.
- Não fala nada, deixa. – diz Lilly no ouvido.
- Mas é verdade, não chegaram nem perto se bobear.- baixinho.
- Eu sei.
As garotas dão as mãos e somem na escuridão do bosque.
O fumo dos garotos fedia muito. Tinha cheiro de mato seco com bolor. Preferiram não compartilhar. As pessoas foram se dispersando aos poucos e elas foram junto.
Compraram mais um chopp.
- Vamos comer mais um pastel, Lilly?
- Vamos!
Ficam sorridentes. Na mesa Lilly encontra um amigo, Rica. E a mesma história, como vocês vieram parar aqui...
Contar o que já passou. À essas alturas o ápice de felicidade de Blanche já havia se esvaído para sua cama imaginária. Não via mais graça em contar a história. Blanche abaixou a cabeça. Lilly e seu amigo não paravam de falar. Enquanto o outro rapaz grande tentava o esquema com as gatinhas. Blanche levanta a cabeça, dá mais um gole, e pede para ir para casa. Não pensava e mais nada. Nem em amorzinho, nem em comida, nem nada. Só em dormir.
A música acabou. Saíram da festa, atravessaram a rua, pagaram o estacionamento e entraram no carro.
O carro começou a andar e tocava The Cure- Fascination Street.
Blanche dizia:
- É The Cure, eu conheço.- estava mole com o braço encostado na lateral interna do carro. – Só a gente mesmo pra ouvir bandinha e voltar ouvindo The Cure, só! – ria.- Gente assim não existe!
Como se não tivessem se encontrado por isso, como se não fossem a maioria. E eram.
Nisso o rapaz grande encostou a mão na perna de Blanche, que puxou de imediato para o lado contrário ao dele. Suas pernas ainda estavam vermelhas das urtigas. Ele ficou sem graça e pegou na mão. Ela deixou dar duas batidinhas na mão e a puxou também.
Pensou: Começam na mão depois querem todo o resto... Não sou um legume do fim da feira... Sou bêbada, mas não sou tola... Sei onde isso vai parar... Não vou dar a confiança... Por quê ele não procura alguém do tamanho dele? Melhor não falar nada se não dá briga... Não entendem nada de sedução mesmo... Ah!!! A música do Depeche Mode! – esquece todo o resto...
Fala coisas a viagem inteira que não se lembra. Se lembra de muita coisa.
Salta do carro sem agradecer. Entra em casa, coloca o sapato ao lado da porta, o casaco no sofá. A mãe aparece e pergunta o que aconteceu. Não quer incomodar, responde. Sobe as escadas sem fazer barulho, tira o short, a blusa e lava vagarosamente o rosto e as mãos. Escova os dentes com rapidez. Tira a lente de contato, coloca os óculos e vai para a varanda ver o dia clarear.







terça-feira, 27 de janeiro de 2009



Uma homenagem à Toulouse-Lautrec e à doce beleza da discrição...
Falou que vou ser pra sempre sua namorada
Falou para não pensar em mais nada
Falou de coisas que tanto me encantaram
Falou de coisas
Ah, coisas que nem se falam
Falou para esperar que um dia chegaria
Falou de saudades
E relembrei
Falou tudo que gostaria

sábado, 24 de janeiro de 2009

Babilônia em Chamas

- Essa é a Babilônia! Tem de tudo! Olha, até a música começou a tocar pra nós ! Música de corno!
Stella olhava ao redor, tocava “ Boate Azul”. Na rua carros passavam aumentando a velocidade, para aparecer na frente do bar. Stella tenta cantar junto com a música. Muda de idéia:
- Não, não! É música de puteiro, na boate azul. É uma boate. Vamos no banheiro?
A outra garota não responde. Apenas segue. Stella abre a porta com cuidado, o banheiro está cheio. Começa a passar o batom fazendo bico:
- Vamos embora? Nem quero ir no banheiro. Está muito cheio. Estou com calor.
Elas sentam em uma mesa na varanda. Stella reclama do cheiro.
- É por quê tem muita gente, Stella.
- Não, é o cheiro da rua....
Pedem polenta e cerveja. Stellinha sempre pede a mesma coisa. Nunca muda. Tem desejo por polenta com cerveja. Nem se dá conta, sempre pede.
- Lilly já estou sentindo o gosto de polenta ! – dá um gole da cerveja e fala baixo, em tom de segredo- é como se estivesse comendo agora.
- Ah, está demorando demais, vou chamar o garçom.
Fica fazendo sinal. Stella só olha, olha ao redor para o outro lado, olha de volta. Lilly balança ambos os braços.
- o garçom nem me vê.
- É, tem que chamar, se não, não vem...
Lilly fala com um senhor que está na porta vendo tudo:
- Chama o garçom? Ih, ele não ouviu.- Virando-se para Stella.
- Deixa, deixa.
- Oh Stelinha! Nossa polenta está vindo!
Stella sorri. Nisso o velho vem em direção à mesa.
Pára de sorrir de imediato.
- Oh não. – coloca o sal.
- ele está vindo aqui. O que será que ele quer? – dá uma risadinha irônica.
- Visse?! Conseguisse o que tu querias, agora dá um jeito de dispensar!
O velho é pior do que se via de longe, balbuciava coisas incompreensíveis, dentre elas a palavra: Petisco! - no final das frases.
- o que é isso?
- Oh, ele está com fome... – Stella faz cara de lamentação, pega o guardanapo e vai colocando as polentas em cima, várias. Enquanto diz:
- Sei que esta não é a solução, mas, vou dar...
- Ah é isso...
Ela tenta entregar o guardanapo e o velho faz sinal de não.
Coloca as polentas uma a uma de volta no prato rapidamente.
- o que tu queres então? !- braba.
- Eu tenho um amigo...
- Sai daqui, sai, sai... – fez sinal de não – sai daqui, vaza!!!- agora gesto de despejo.
As garotas se entreolham.
- o que foi isso?
- Não sei.
Stella coloca as mãos na boca e fica pensando. Ultimamente tem pensado demais. Só pensa, não reage.