Dias felizes aqueles em que se comia açúcar
Se bebia vinho, tomava cerveja
Comia bolachas, tomava nescau
Dias felizes aqueles em que nada se sabia
Felizes daqueles que não sabem
Dias felizes quando se enchia a cara sem culpa
Se tomava cuba, tinha lexotan
Se tinha torpor
Saía do banheiro dançando
Com a cara branca, os olhos baixos
A fala mansa
- Me dê mais uma cerveja por favor
- Give me a beer
Se bebia de graça
É muito bom ser novato
Pensar que o mundo está aí esperando por mim
Ele nunca espera, ele vacila
O mundo mata
Mata com horror, com injustiça, com violêmcia
Nunca é bom
Ao menos que se deixe viver
Mas um dia ele não deixa
Clama por amor
Clama por carinho
Não ganha
Talvez nem exista e eu nem sei
Give me a double drink too
Ou enlouquecerei como a maioria
Que como eu pensa demais o que não deve
Seqüencial
Don´t give me
Espere por mim; não espere por colocar açúcar no café
sexta-feira, 30 de janeiro de 2009
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
A Pomerana
O dia estava fresco. Blanche estava se arrumando para ir à Festa Pomerana. Ela entra na sala tomando café e mastigando algo, abre a agenda enquanto pega o telefone e disca o número ao sentar na cadeira. Convenceu a amiga, que nada gostava desse tipo de festa.
- Aprenderás a amar essas coisas também!
Blanche gosta muito de vestidos, mas como sabia que lá teriam muitos, colocou short xadrez com casaco preto e sapatos de boneca. Não se maquia. Passa pouco perfume, só nas pernas. Para o aroma de espalhar com o movimento, pensava. E foi ao mercado vender passagens de ônibus.
A tarde caía com uma leve garoa fina. Durou uns minutos.
Na rua passa um cara de bicicleta que diz oi. Ela não responde imaginando que aí ele vai incomodar. Ele ameaça:
- Não conhece,mina?
- Não. – fazendo cara de séria.
Ela anda devagar para aquele bicho feio ir embora. Deu certo. Entra no mercado e diz ao caixa:
- Vim vender passes- contando-os em cima do balcão.
Em frente tem estacionado um fusca branco, modelo 70 original, que ela fica namorando durante todo o acontecimento.
- Lindo fusca.
Não responde. Ela pega o dinheiro e agradece. Vai andando devagar por um quilômetro, até encontrar Lilly.
- Estais muito tempo me esperando?- sorrindo.
- Não, dez minutos.- também sorrindo.
- Consegui dezesseis reais, vendi passes. Mais cinco da minha mãe.
- Eu também, tenho trinta.
- Pensei que o ônibus tinha passado. Mas era Presidente Getúlio.
- Presidente Getúlio sai antes ou depois do Pomerode ?
- Não sei. O Pomerode sai seis horas do Beco Araranguá.
- Ah... Onde é isso?
- Terminal Fonte.
- Mas agora são seis e vinte, estou aqui desde as seis.
- Ô, tá sussi. – balançando a mão pra baixo.
- Vou fumar um cigarro, chama ônibus.
- Não, fuma depois. Vais ter que jogar fora.
- Não faz mal. É só acender que o ônibus vem. Está na hora de fumar mais um.
- O ônibus! Vem! – dá uma risadinha de felicidade ao ver o ônibus de longe e olha pra Lilly. – Vais se sentir em uma viagem. Vai ser tudo muito divertido!
- Minha irmã disse que é uma aventura! – guardando o cigarro.
- E é mesmo... Até o ônibus parece de viagem...
Elas sentam em um banco mais alto. Blanche mostra todas as casas que já tirou fotos e que quer tirar. Todos os bares, postos de gasolina com conveniência e pastos que já entrou. Chega a interromper a conversa para mostrar. Começou a chover, mas ainda demonstrava muita alegria. Só demonstrava medo ao ver os desbarrancamentos na estrada com lama e pista molhada. Mania de pensar no pior.
Ao saltar do ônibus Blanche olha o cobrador com um pequeno sorriso e diz:
- Pra onde é a festa?
- Entra nessa rua aqui. – Aponta.
- Obrigada- e começa a falar baixo- Visse Lilly como ele fala bonitinho...
- Aham...
Passeiam pela cidade. Falam muito. E alto. E riem. Passam carros buzinando. Rapazes falam coisas. Dizem que querem bailar.
- Esta foi pra ti Lilly. Estais de saia. Quem baila usa saia.
Lilly usava uma saia de veludo com flores e corselete, em homenagem à festa.
- E se me convidarem pra dançar? Eu não sei dançar? Como faço?
- Ah é só imaginar uma música na cabeça, e não tirar, assim: kleine kleine kleine kleine chopps! –ela faz um soco no ar e começam a rir.
- Eu vou só acompanhar a música.
- Isso, acompanha a música.
- Minha irmã disse que nunca se deve negar uma dança. Por quê a pessoa teve que criar muita coragem para pedir para dançar.
E Blanche faz tudo sempre muito errado por quê fica dando voltas nos quarteirões ao invés de seguir reto. Sobe em uma passarela só para olhar os carros passando embaixo. E tem a crise do romantismo:
- Olha que flor linda/ olha a casa de tijolinhos/ olha o tom desse rosa/ olha a igreja/ entra nessa rua/ tenho uma bússola na cabeça/ ah não, enxamelóide não......
Param para tomar uma cerveja e logo saem. A festa estava bombando, como se diz. Parecia tudo muito bonito e apetitoso aos olhos de Blanche:
- Não imaginei que fosse aqui...
- É... Tua bússola falhou...
- Não tinha pensado nisso...
Segue hipnotizada à bilheteria.
- Oi, fazem ingresso de estudante?
- Não.
-Só inteira?
- Só inteira.
- Quanto é?
- Dez reais.
- Dez reais, Lilly.- se virando.
- Até dá...
- Melhor pensar.
- Vamos andar um pouco...
Vão andando na rua e fazendo cálculos.
- Daria para tomar vinte pila de chopp. Vinte reais é muito dinheiro. Fosse dez.
- Tem polícia pra tudo que é lado.
- Parece que olham pra gente.
- Parece né...
- Aqui não dá pra fumar. Vamos entrar nessa rua. Se tivesse outra maneira...
- Essa cerca não tem arame farpado.
- Mas tem outra lá embaixo.
- Não, não tem. Pula essa e está na festa.
Ficam em silêncio por um minuto.
- Blanche!
- Ah... – suspira.
- E se a gente negociasse com o cara do estacionamento?
- Não quero levar um fora. Vai negar. E depois se negar, vão saber, e vão ficar em cima.
- Aqueles lá também vão pular.
- Sério?
- Não... é uma família...
- Ah... Nossa.
Silêncio novamente.
- A gente poderia pular aqui que está mais escuro e descer por ali.
- Ou vamos até o final para ver.
- Não, vai ser ruim de voltar. Assim a gente se mistura logo na multidão.
- Vamos fumar pra pensar melhor?
- Podemos entrar nessa casa abandonada.
- Faz muito tempo que não faço isso...
Ficam vinte minutos fazendo estratagemas, decorando os passos, tremendo, pensando: Pula ali onde tem o apoio... entra no mato... vai descendo.... faz assim com a perna quando for pular.... se nos pegarem chamamos sua mãe... não, melhor nem saberem das mães...e assim foram planejando. E às vezes também riam por quê diziam-se mulheres guerreiras. E que podiam pular sem ajuda de um homem! Nas outras vezes os namorados ou primos ajudavam. Davam as mãos para que colocássemos os pés e empurravam como fosse grande coisa. Temos que pular ao mesmo tempo, diziam, para não ficar para trás. Sem rir ou fazer escândalo. E Blanche sentia náusea, não dizia. E voltava a rir, dizendo piadas de hoje eu vou pular a cerca!
Saíram da casa e vinha um casal.
- Casal sempre parece inofensivo, incrível.
O casal cruzou a esquina e as duas foram até a outra esquina garantir a cobertura.
- Vamos!- disse Lilly.
- Aqui mesmo?
Não responde só foram subindo. Colocam as mãos ao mesmo tempo na estaca, e ao mesmo tempo pulam. Uma acompanha o movimento da outra. Entram no mato. Blanche fica em meio à urtigas e espinhos. Arranhando sua perna. Mas pula devagar para dentro mesmo assim. Já descendo o barranco.
- Vai devagar Lilly, estou tremendo...
- Eu também, não consigo parar de tremer... estais bem? Tudo bem?
- Tudo. Só me arranhei um pouco.
- Vamos descer por aqui. E saímos atrás do jipe.
- Ai, espera, deixa eu ver minha meia.
- Só estou arranhada, mas não faz mal. – se olhando. – Meu coração que está muito acelerado.
- Vamos indo devagar...
- Aproveita que o ônibus está saindo.
Acelerou o motor velho e saiu uma fumaça negra. Famílias dirigiam-se aos seus carros. A música aumentava.
- Vamos ao banheiro.
Foram se misturando em meio à multidão, Blanche olha o segurança, estático. Estavam dentro e se deu conta. Ela começa a rir sem parar. A música é muito alta, tudo é lindo, agradável e alegre. Ela diz alto:
- Isto que é amor! Isto que é amor pelos bons costumes!
- Hahaha. – fazendo sinal para andar.
Segue andando. Quase entra na cabine do banheiro.
- Ah eu nem quero fazer xixi.
- Vamos só se olhar pra ver se está tudo em ordem.
Saem do banheiro alegres sem se olhar. Blanche tenta se comportar. Não falar alto. Fazem o reconhecimento do local.
Ah... não gostei.
- O quê?
- Aqui não tem tiro!
- Ah, então vamos embora!
Riam sem parar.
Vão ao caixa comprar bilhetes de chopp. Param na fila.
- Parece um filme!!! Tudo parece um filme!!! – Blanche fica quase histérica de felicidade.- O filme de nossas vidas!!!
- Não é o ápice?
- Sim... e se não entrássemos seria o fundo do poço!- gargalhava
Pegam o chopp ainda desajeitadas. Não sabem para onde olham primeiro
Param para ouvir a bandinha. Atrás do palco. Para tomar ar.
- É sempre o mesmo ritmo Blanche?
- É... – apenas olha.
Começa a tocar uma paródia do kiss.
- Ah olha ali, só o que faltava. Rock com bandinha... hunf.
- Eles não sabem tocar rock.
- Nem combina, quero sair daqui.
Vão falando, gesticulando e apontando com uma mão e bebendo na outra.
- Vamos ao parque? – já entrando
- Vamos...
- Olha tem o tiro do parque.
- Queres tentar? É só derrubar o ursinho que tu ganha.
- Quero aquele moranguinho.
- Mas ninguém derruba nada!
- Claro, são picaretas, os bichinhos estão colados!
- É! Só pode... Tudo colado!
- Ninguém me faz de trouxa. – mal humorada
- Vamos na roda gigante?
- Não sei...
- Queres ir em qual brinquedo?
- Nada de vomitar!
- É... vomitar não é bom...
- Essas coisas que giram me embrulham o estômago só de ver...
Blanche olhava para a roda gigante que tinha acabine toda fechada, claustrofóbica segundo ela, e girava muito rápido. Se virou e foram andando em direção contrária.
- Tem essa montanha russa.
- Está enferrujada. Parece a montanha russa condenada.
- Essa minhoca... Eu não gosto do carrinho de choque, batem na gente de propósito.
- Minha mãe dizia que é perigoso, pode deslocar a nuca.
- E o trem fantasma? Vamos no trem fantasma?
- Ai, trem fantasma?
Tabela de preços : Um ingresso : R$ 3,00
- Os outros são de criança...
- Ui, esse é de passar mal... – enruga a cara e aponta para um brinquedo imitando uma centrífuga – Eu não deixaria meu filho ir nesse, se eu tivesse um. Ao menos faria tudo para não ir. Olha! Não tem nem cerca de segurança! E se uma criança hiperativa se joga embaixo do brinquedo? Morre. Não tem nem o que fazer. Eu não traria um filho meu para uma festa numa hora dessas...
Já estava ficando bêbada, falando sobre educação de filhos e planejamento familiar enquanto olham as pessoas tentando derrubar as latinhas chutando a bola. Tudo truque. Tem imã, dizia Lilly.
- Olha! Um bosque! – esquece completamente a idéia anterior.
- Esse é o corredor que os casais namoram.
Chovia e as gotas caíam grossas vindas das folhas.
- Será que não vão achar que a gente pulou a cerca por aqui?
- Melhor ir embora.
Se misturam na multidão e vão para um elevado. Arrumam uma mesa de canto. A única vazia.
- Tivemos sorte, a outra toalha estava molhada.
. Blanche suspira o tempo todo na sua alegria histérica:
- É tudo lindo! Veja as fitas, brancas, azuis... Que ambiente maravilhoso!!!
Em cima das mesas tem uma luminária de tecido, xadrez azul como a toalha. Ao redor é de tijolinhos à vista. Não falam nada. Apenas bebem. Blanche finalmente observa cada um, ouve a música, identifica os grupos. Calma e paulatinamente:
- Está vendo aquele casal?
- Ammm
- Ele nem dá mais bola pra ela, prefere falar com os amigos. Não gosta.
- Gosta sim. É que devem estar há muito tempo juntos.
- Estão enjoados da relação.
- É assim mesmo...
Observam mais um pouco. Bebem.
- Eu vivo falando que não quero mais ter celular, para me isolar. Não depender da tecnologia. Mas agora eu queria ter, para contar para alguém que estou aqui!
- É...
- Vamos comprar mais chopp? Está acabando...
- Pode deixar que eu vou.
Lilly demora mas Blanche não se importa. Gosta da solidão.
Uma mulher senta na cadeira. Blanche diz que a amiga já vem. A mulher diz que quando vier sai. Blanche agradece.
Lilly sobe o elevado sorridente. Trazendo os bilhetes. A mulher levanta e senta novamente. A amiga ao lado que manda sentar. Lilly chega e as duas saem de imediato.
- Desculpa... Eu demorei...
- Não me importo.
- É que eu dancei! Eu dancei! E com esse cara ali!
- É sério?
- Pssss, a namorada dele não pode saber. Pediu meu telefone! E eu dei!
- É?
- Dei! Hahaha
- Falei que estava enjoado da relação. Dificilmente me engano.
- Vamos ver se vai ligar...
Blanche se levanta para procurar comida. Começou olhando para todos os lados. Pediu informação e atravessou o pavilhão até achar.
Pastel : R$ 2,00
Cachorrão com duas salsichas : R$ 4,00
Ah, salsicha não, pensou. Ainda mais essa salsicha condimentada como deve ser. Pegou pastel. Na volta mais observações. Pessoas com uniformes estilizados que chegavam a serem feios, com saias curtas para mostrar as pernas. Os casais na pista de dança iam abraçados todos na mesma direção no sentido anti- horário. Não sabe como não ficavam tontos. Cuidava para o pacote não cair.
- Oh, demorei, mas achei pastel por dois reais.
- Ahhh
- Gosta de frango?
- Gosto.
- É de frango. - apontando
Terminaram de comer e de tomar o chopp que estava na metade.
Atravessaram a multidão. Blanche parou em frente ao palco. A criança que dançava sorria para Blanche.
- Eu não preciso fazer nada para as crianças gostarem de mim....
- Ela é treinada para isso, desde pequena.
- É, mas está feliz.
Foram andando aleatoriamente. Encontravam pessoas, Mal conversavam. Foram para o bosque. Chegaram uns meninos, menores de idade. Falavam, andavam junto, enchiam o saco. Saíram e ela foram sentar no quiosque. Em dois minutos veio um grupo de garotos fazer amizade.
- Oi.
- Oi.
- Vocês são da onde?
- Blumenau, e vocês?
- Eu nunca vim pra cá...- diz Lilly.
- Pomerode.- responde o rapaz de boné.
- Ah, daqui mesmo...
- É...
- Nós pulamos a cerca para vir pra cá!
- Nossa!! Tem que mais é que pular mesmo!
Os garotos estão preparando o fumo. Chegam duas garotas de mãos dadas. A mais magra chega falando:
- O que é isso?? Meu negócio é cocaína e ecstasy!
A outra começa a andar para trás.
- É a minha irmã, dá nada.... – diz o rapaz de boné, sorrindo.
- Soubesse o que é cocaína não falava uma coisa dessas. – diz Blanche com desdém.
- Não fala nada, deixa. – diz Lilly no ouvido.
- Mas é verdade, não chegaram nem perto se bobear.- baixinho.
- Eu sei.
As garotas dão as mãos e somem na escuridão do bosque.
O fumo dos garotos fedia muito. Tinha cheiro de mato seco com bolor. Preferiram não compartilhar. As pessoas foram se dispersando aos poucos e elas foram junto.
Compraram mais um chopp.
- Vamos comer mais um pastel, Lilly?
- Vamos!
Ficam sorridentes. Na mesa Lilly encontra um amigo, Rica. E a mesma história, como vocês vieram parar aqui...
Contar o que já passou. À essas alturas o ápice de felicidade de Blanche já havia se esvaído para sua cama imaginária. Não via mais graça em contar a história. Blanche abaixou a cabeça. Lilly e seu amigo não paravam de falar. Enquanto o outro rapaz grande tentava o esquema com as gatinhas. Blanche levanta a cabeça, dá mais um gole, e pede para ir para casa. Não pensava e mais nada. Nem em amorzinho, nem em comida, nem nada. Só em dormir.
A música acabou. Saíram da festa, atravessaram a rua, pagaram o estacionamento e entraram no carro.
O carro começou a andar e tocava The Cure- Fascination Street.
Blanche dizia:
- É The Cure, eu conheço.- estava mole com o braço encostado na lateral interna do carro. – Só a gente mesmo pra ouvir bandinha e voltar ouvindo The Cure, só! – ria.- Gente assim não existe!
Como se não tivessem se encontrado por isso, como se não fossem a maioria. E eram.
Nisso o rapaz grande encostou a mão na perna de Blanche, que puxou de imediato para o lado contrário ao dele. Suas pernas ainda estavam vermelhas das urtigas. Ele ficou sem graça e pegou na mão. Ela deixou dar duas batidinhas na mão e a puxou também.
Pensou: Começam na mão depois querem todo o resto... Não sou um legume do fim da feira... Sou bêbada, mas não sou tola... Sei onde isso vai parar... Não vou dar a confiança... Por quê ele não procura alguém do tamanho dele? Melhor não falar nada se não dá briga... Não entendem nada de sedução mesmo... Ah!!! A música do Depeche Mode! – esquece todo o resto...
Fala coisas a viagem inteira que não se lembra. Se lembra de muita coisa.
Salta do carro sem agradecer. Entra em casa, coloca o sapato ao lado da porta, o casaco no sofá. A mãe aparece e pergunta o que aconteceu. Não quer incomodar, responde. Sobe as escadas sem fazer barulho, tira o short, a blusa e lava vagarosamente o rosto e as mãos. Escova os dentes com rapidez. Tira a lente de contato, coloca os óculos e vai para a varanda ver o dia clarear.
- Aprenderás a amar essas coisas também!
Blanche gosta muito de vestidos, mas como sabia que lá teriam muitos, colocou short xadrez com casaco preto e sapatos de boneca. Não se maquia. Passa pouco perfume, só nas pernas. Para o aroma de espalhar com o movimento, pensava. E foi ao mercado vender passagens de ônibus.
A tarde caía com uma leve garoa fina. Durou uns minutos.
Na rua passa um cara de bicicleta que diz oi. Ela não responde imaginando que aí ele vai incomodar. Ele ameaça:
- Não conhece,mina?
- Não. – fazendo cara de séria.
Ela anda devagar para aquele bicho feio ir embora. Deu certo. Entra no mercado e diz ao caixa:
- Vim vender passes- contando-os em cima do balcão.
Em frente tem estacionado um fusca branco, modelo 70 original, que ela fica namorando durante todo o acontecimento.
- Lindo fusca.
Não responde. Ela pega o dinheiro e agradece. Vai andando devagar por um quilômetro, até encontrar Lilly.
- Estais muito tempo me esperando?- sorrindo.
- Não, dez minutos.- também sorrindo.
- Consegui dezesseis reais, vendi passes. Mais cinco da minha mãe.
- Eu também, tenho trinta.
- Pensei que o ônibus tinha passado. Mas era Presidente Getúlio.
- Presidente Getúlio sai antes ou depois do Pomerode ?
- Não sei. O Pomerode sai seis horas do Beco Araranguá.
- Ah... Onde é isso?
- Terminal Fonte.
- Mas agora são seis e vinte, estou aqui desde as seis.
- Ô, tá sussi. – balançando a mão pra baixo.
- Vou fumar um cigarro, chama ônibus.
- Não, fuma depois. Vais ter que jogar fora.
- Não faz mal. É só acender que o ônibus vem. Está na hora de fumar mais um.
- O ônibus! Vem! – dá uma risadinha de felicidade ao ver o ônibus de longe e olha pra Lilly. – Vais se sentir em uma viagem. Vai ser tudo muito divertido!
- Minha irmã disse que é uma aventura! – guardando o cigarro.
- E é mesmo... Até o ônibus parece de viagem...
Elas sentam em um banco mais alto. Blanche mostra todas as casas que já tirou fotos e que quer tirar. Todos os bares, postos de gasolina com conveniência e pastos que já entrou. Chega a interromper a conversa para mostrar. Começou a chover, mas ainda demonstrava muita alegria. Só demonstrava medo ao ver os desbarrancamentos na estrada com lama e pista molhada. Mania de pensar no pior.
Ao saltar do ônibus Blanche olha o cobrador com um pequeno sorriso e diz:
- Pra onde é a festa?
- Entra nessa rua aqui. – Aponta.
- Obrigada- e começa a falar baixo- Visse Lilly como ele fala bonitinho...
- Aham...
Passeiam pela cidade. Falam muito. E alto. E riem. Passam carros buzinando. Rapazes falam coisas. Dizem que querem bailar.
- Esta foi pra ti Lilly. Estais de saia. Quem baila usa saia.
Lilly usava uma saia de veludo com flores e corselete, em homenagem à festa.
- E se me convidarem pra dançar? Eu não sei dançar? Como faço?
- Ah é só imaginar uma música na cabeça, e não tirar, assim: kleine kleine kleine kleine chopps! –ela faz um soco no ar e começam a rir.
- Eu vou só acompanhar a música.
- Isso, acompanha a música.
- Minha irmã disse que nunca se deve negar uma dança. Por quê a pessoa teve que criar muita coragem para pedir para dançar.
E Blanche faz tudo sempre muito errado por quê fica dando voltas nos quarteirões ao invés de seguir reto. Sobe em uma passarela só para olhar os carros passando embaixo. E tem a crise do romantismo:
- Olha que flor linda/ olha a casa de tijolinhos/ olha o tom desse rosa/ olha a igreja/ entra nessa rua/ tenho uma bússola na cabeça/ ah não, enxamelóide não......
Param para tomar uma cerveja e logo saem. A festa estava bombando, como se diz. Parecia tudo muito bonito e apetitoso aos olhos de Blanche:
- Não imaginei que fosse aqui...
- É... Tua bússola falhou...
- Não tinha pensado nisso...
Segue hipnotizada à bilheteria.
- Oi, fazem ingresso de estudante?
- Não.
-Só inteira?
- Só inteira.
- Quanto é?
- Dez reais.
- Dez reais, Lilly.- se virando.
- Até dá...
- Melhor pensar.
- Vamos andar um pouco...
Vão andando na rua e fazendo cálculos.
- Daria para tomar vinte pila de chopp. Vinte reais é muito dinheiro. Fosse dez.
- Tem polícia pra tudo que é lado.
- Parece que olham pra gente.
- Parece né...
- Aqui não dá pra fumar. Vamos entrar nessa rua. Se tivesse outra maneira...
- Essa cerca não tem arame farpado.
- Mas tem outra lá embaixo.
- Não, não tem. Pula essa e está na festa.
Ficam em silêncio por um minuto.
- Blanche!
- Ah... – suspira.
- E se a gente negociasse com o cara do estacionamento?
- Não quero levar um fora. Vai negar. E depois se negar, vão saber, e vão ficar em cima.
- Aqueles lá também vão pular.
- Sério?
- Não... é uma família...
- Ah... Nossa.
Silêncio novamente.
- A gente poderia pular aqui que está mais escuro e descer por ali.
- Ou vamos até o final para ver.
- Não, vai ser ruim de voltar. Assim a gente se mistura logo na multidão.
- Vamos fumar pra pensar melhor?
- Podemos entrar nessa casa abandonada.
- Faz muito tempo que não faço isso...
Ficam vinte minutos fazendo estratagemas, decorando os passos, tremendo, pensando: Pula ali onde tem o apoio... entra no mato... vai descendo.... faz assim com a perna quando for pular.... se nos pegarem chamamos sua mãe... não, melhor nem saberem das mães...e assim foram planejando. E às vezes também riam por quê diziam-se mulheres guerreiras. E que podiam pular sem ajuda de um homem! Nas outras vezes os namorados ou primos ajudavam. Davam as mãos para que colocássemos os pés e empurravam como fosse grande coisa. Temos que pular ao mesmo tempo, diziam, para não ficar para trás. Sem rir ou fazer escândalo. E Blanche sentia náusea, não dizia. E voltava a rir, dizendo piadas de hoje eu vou pular a cerca!
Saíram da casa e vinha um casal.
- Casal sempre parece inofensivo, incrível.
O casal cruzou a esquina e as duas foram até a outra esquina garantir a cobertura.
- Vamos!- disse Lilly.
- Aqui mesmo?
Não responde só foram subindo. Colocam as mãos ao mesmo tempo na estaca, e ao mesmo tempo pulam. Uma acompanha o movimento da outra. Entram no mato. Blanche fica em meio à urtigas e espinhos. Arranhando sua perna. Mas pula devagar para dentro mesmo assim. Já descendo o barranco.
- Vai devagar Lilly, estou tremendo...
- Eu também, não consigo parar de tremer... estais bem? Tudo bem?
- Tudo. Só me arranhei um pouco.
- Vamos descer por aqui. E saímos atrás do jipe.
- Ai, espera, deixa eu ver minha meia.
- Só estou arranhada, mas não faz mal. – se olhando. – Meu coração que está muito acelerado.
- Vamos indo devagar...
- Aproveita que o ônibus está saindo.
Acelerou o motor velho e saiu uma fumaça negra. Famílias dirigiam-se aos seus carros. A música aumentava.
- Vamos ao banheiro.
Foram se misturando em meio à multidão, Blanche olha o segurança, estático. Estavam dentro e se deu conta. Ela começa a rir sem parar. A música é muito alta, tudo é lindo, agradável e alegre. Ela diz alto:
- Isto que é amor! Isto que é amor pelos bons costumes!
- Hahaha. – fazendo sinal para andar.
Segue andando. Quase entra na cabine do banheiro.
- Ah eu nem quero fazer xixi.
- Vamos só se olhar pra ver se está tudo em ordem.
Saem do banheiro alegres sem se olhar. Blanche tenta se comportar. Não falar alto. Fazem o reconhecimento do local.
Ah... não gostei.
- O quê?
- Aqui não tem tiro!
- Ah, então vamos embora!
Riam sem parar.
Vão ao caixa comprar bilhetes de chopp. Param na fila.
- Parece um filme!!! Tudo parece um filme!!! – Blanche fica quase histérica de felicidade.- O filme de nossas vidas!!!
- Não é o ápice?
- Sim... e se não entrássemos seria o fundo do poço!- gargalhava
Pegam o chopp ainda desajeitadas. Não sabem para onde olham primeiro
Param para ouvir a bandinha. Atrás do palco. Para tomar ar.
- É sempre o mesmo ritmo Blanche?
- É... – apenas olha.
Começa a tocar uma paródia do kiss.
- Ah olha ali, só o que faltava. Rock com bandinha... hunf.
- Eles não sabem tocar rock.
- Nem combina, quero sair daqui.
Vão falando, gesticulando e apontando com uma mão e bebendo na outra.
- Vamos ao parque? – já entrando
- Vamos...
- Olha tem o tiro do parque.
- Queres tentar? É só derrubar o ursinho que tu ganha.
- Quero aquele moranguinho.
- Mas ninguém derruba nada!
- Claro, são picaretas, os bichinhos estão colados!
- É! Só pode... Tudo colado!
- Ninguém me faz de trouxa. – mal humorada
- Vamos na roda gigante?
- Não sei...
- Queres ir em qual brinquedo?
- Nada de vomitar!
- É... vomitar não é bom...
- Essas coisas que giram me embrulham o estômago só de ver...
Blanche olhava para a roda gigante que tinha acabine toda fechada, claustrofóbica segundo ela, e girava muito rápido. Se virou e foram andando em direção contrária.
- Tem essa montanha russa.
- Está enferrujada. Parece a montanha russa condenada.
- Essa minhoca... Eu não gosto do carrinho de choque, batem na gente de propósito.
- Minha mãe dizia que é perigoso, pode deslocar a nuca.
- E o trem fantasma? Vamos no trem fantasma?
- Ai, trem fantasma?
Tabela de preços : Um ingresso : R$ 3,00
- Os outros são de criança...
- Ui, esse é de passar mal... – enruga a cara e aponta para um brinquedo imitando uma centrífuga – Eu não deixaria meu filho ir nesse, se eu tivesse um. Ao menos faria tudo para não ir. Olha! Não tem nem cerca de segurança! E se uma criança hiperativa se joga embaixo do brinquedo? Morre. Não tem nem o que fazer. Eu não traria um filho meu para uma festa numa hora dessas...
Já estava ficando bêbada, falando sobre educação de filhos e planejamento familiar enquanto olham as pessoas tentando derrubar as latinhas chutando a bola. Tudo truque. Tem imã, dizia Lilly.
- Olha! Um bosque! – esquece completamente a idéia anterior.
- Esse é o corredor que os casais namoram.
Chovia e as gotas caíam grossas vindas das folhas.
- Será que não vão achar que a gente pulou a cerca por aqui?
- Melhor ir embora.
Se misturam na multidão e vão para um elevado. Arrumam uma mesa de canto. A única vazia.
- Tivemos sorte, a outra toalha estava molhada.
. Blanche suspira o tempo todo na sua alegria histérica:
- É tudo lindo! Veja as fitas, brancas, azuis... Que ambiente maravilhoso!!!
Em cima das mesas tem uma luminária de tecido, xadrez azul como a toalha. Ao redor é de tijolinhos à vista. Não falam nada. Apenas bebem. Blanche finalmente observa cada um, ouve a música, identifica os grupos. Calma e paulatinamente:
- Está vendo aquele casal?
- Ammm
- Ele nem dá mais bola pra ela, prefere falar com os amigos. Não gosta.
- Gosta sim. É que devem estar há muito tempo juntos.
- Estão enjoados da relação.
- É assim mesmo...
Observam mais um pouco. Bebem.
- Eu vivo falando que não quero mais ter celular, para me isolar. Não depender da tecnologia. Mas agora eu queria ter, para contar para alguém que estou aqui!
- É...
- Vamos comprar mais chopp? Está acabando...
- Pode deixar que eu vou.
Lilly demora mas Blanche não se importa. Gosta da solidão.
Uma mulher senta na cadeira. Blanche diz que a amiga já vem. A mulher diz que quando vier sai. Blanche agradece.
Lilly sobe o elevado sorridente. Trazendo os bilhetes. A mulher levanta e senta novamente. A amiga ao lado que manda sentar. Lilly chega e as duas saem de imediato.
- Desculpa... Eu demorei...
- Não me importo.
- É que eu dancei! Eu dancei! E com esse cara ali!
- É sério?
- Pssss, a namorada dele não pode saber. Pediu meu telefone! E eu dei!
- É?
- Dei! Hahaha
- Falei que estava enjoado da relação. Dificilmente me engano.
- Vamos ver se vai ligar...
Blanche se levanta para procurar comida. Começou olhando para todos os lados. Pediu informação e atravessou o pavilhão até achar.
Pastel : R$ 2,00
Cachorrão com duas salsichas : R$ 4,00
Ah, salsicha não, pensou. Ainda mais essa salsicha condimentada como deve ser. Pegou pastel. Na volta mais observações. Pessoas com uniformes estilizados que chegavam a serem feios, com saias curtas para mostrar as pernas. Os casais na pista de dança iam abraçados todos na mesma direção no sentido anti- horário. Não sabe como não ficavam tontos. Cuidava para o pacote não cair.
- Oh, demorei, mas achei pastel por dois reais.
- Ahhh
- Gosta de frango?
- Gosto.
- É de frango. - apontando
Terminaram de comer e de tomar o chopp que estava na metade.
Atravessaram a multidão. Blanche parou em frente ao palco. A criança que dançava sorria para Blanche.
- Eu não preciso fazer nada para as crianças gostarem de mim....
- Ela é treinada para isso, desde pequena.
- É, mas está feliz.
Foram andando aleatoriamente. Encontravam pessoas, Mal conversavam. Foram para o bosque. Chegaram uns meninos, menores de idade. Falavam, andavam junto, enchiam o saco. Saíram e ela foram sentar no quiosque. Em dois minutos veio um grupo de garotos fazer amizade.
- Oi.
- Oi.
- Vocês são da onde?
- Blumenau, e vocês?
- Eu nunca vim pra cá...- diz Lilly.
- Pomerode.- responde o rapaz de boné.
- Ah, daqui mesmo...
- É...
- Nós pulamos a cerca para vir pra cá!
- Nossa!! Tem que mais é que pular mesmo!
Os garotos estão preparando o fumo. Chegam duas garotas de mãos dadas. A mais magra chega falando:
- O que é isso?? Meu negócio é cocaína e ecstasy!
A outra começa a andar para trás.
- É a minha irmã, dá nada.... – diz o rapaz de boné, sorrindo.
- Soubesse o que é cocaína não falava uma coisa dessas. – diz Blanche com desdém.
- Não fala nada, deixa. – diz Lilly no ouvido.
- Mas é verdade, não chegaram nem perto se bobear.- baixinho.
- Eu sei.
As garotas dão as mãos e somem na escuridão do bosque.
O fumo dos garotos fedia muito. Tinha cheiro de mato seco com bolor. Preferiram não compartilhar. As pessoas foram se dispersando aos poucos e elas foram junto.
Compraram mais um chopp.
- Vamos comer mais um pastel, Lilly?
- Vamos!
Ficam sorridentes. Na mesa Lilly encontra um amigo, Rica. E a mesma história, como vocês vieram parar aqui...
Contar o que já passou. À essas alturas o ápice de felicidade de Blanche já havia se esvaído para sua cama imaginária. Não via mais graça em contar a história. Blanche abaixou a cabeça. Lilly e seu amigo não paravam de falar. Enquanto o outro rapaz grande tentava o esquema com as gatinhas. Blanche levanta a cabeça, dá mais um gole, e pede para ir para casa. Não pensava e mais nada. Nem em amorzinho, nem em comida, nem nada. Só em dormir.
A música acabou. Saíram da festa, atravessaram a rua, pagaram o estacionamento e entraram no carro.
O carro começou a andar e tocava The Cure- Fascination Street.
Blanche dizia:
- É The Cure, eu conheço.- estava mole com o braço encostado na lateral interna do carro. – Só a gente mesmo pra ouvir bandinha e voltar ouvindo The Cure, só! – ria.- Gente assim não existe!
Como se não tivessem se encontrado por isso, como se não fossem a maioria. E eram.
Nisso o rapaz grande encostou a mão na perna de Blanche, que puxou de imediato para o lado contrário ao dele. Suas pernas ainda estavam vermelhas das urtigas. Ele ficou sem graça e pegou na mão. Ela deixou dar duas batidinhas na mão e a puxou também.
Pensou: Começam na mão depois querem todo o resto... Não sou um legume do fim da feira... Sou bêbada, mas não sou tola... Sei onde isso vai parar... Não vou dar a confiança... Por quê ele não procura alguém do tamanho dele? Melhor não falar nada se não dá briga... Não entendem nada de sedução mesmo... Ah!!! A música do Depeche Mode! – esquece todo o resto...
Fala coisas a viagem inteira que não se lembra. Se lembra de muita coisa.
Salta do carro sem agradecer. Entra em casa, coloca o sapato ao lado da porta, o casaco no sofá. A mãe aparece e pergunta o que aconteceu. Não quer incomodar, responde. Sobe as escadas sem fazer barulho, tira o short, a blusa e lava vagarosamente o rosto e as mãos. Escova os dentes com rapidez. Tira a lente de contato, coloca os óculos e vai para a varanda ver o dia clarear.
terça-feira, 27 de janeiro de 2009
sábado, 24 de janeiro de 2009
Babilônia em Chamas
- Essa é a Babilônia! Tem de tudo! Olha, até a música começou a tocar pra nós ! Música de corno!
Stella olhava ao redor, tocava “ Boate Azul”. Na rua carros passavam aumentando a velocidade, para aparecer na frente do bar. Stella tenta cantar junto com a música. Muda de idéia:
- Não, não! É música de puteiro, na boate azul. É uma boate. Vamos no banheiro?
A outra garota não responde. Apenas segue. Stella abre a porta com cuidado, o banheiro está cheio. Começa a passar o batom fazendo bico:
- Vamos embora? Nem quero ir no banheiro. Está muito cheio. Estou com calor.
Elas sentam em uma mesa na varanda. Stella reclama do cheiro.
- É por quê tem muita gente, Stella.
- Não, é o cheiro da rua....
Pedem polenta e cerveja. Stellinha sempre pede a mesma coisa. Nunca muda. Tem desejo por polenta com cerveja. Nem se dá conta, sempre pede.
- Lilly já estou sentindo o gosto de polenta ! – dá um gole da cerveja e fala baixo, em tom de segredo- é como se estivesse comendo agora.
- Ah, está demorando demais, vou chamar o garçom.
Fica fazendo sinal. Stella só olha, olha ao redor para o outro lado, olha de volta. Lilly balança ambos os braços.
- o garçom nem me vê.
- É, tem que chamar, se não, não vem...
Lilly fala com um senhor que está na porta vendo tudo:
- Chama o garçom? Ih, ele não ouviu.- Virando-se para Stella.
- Deixa, deixa.
- Oh Stelinha! Nossa polenta está vindo!
Stella sorri. Nisso o velho vem em direção à mesa.
Pára de sorrir de imediato.
- Oh não. – coloca o sal.
- ele está vindo aqui. O que será que ele quer? – dá uma risadinha irônica.
- Visse?! Conseguisse o que tu querias, agora dá um jeito de dispensar!
O velho é pior do que se via de longe, balbuciava coisas incompreensíveis, dentre elas a palavra: Petisco! - no final das frases.
- o que é isso?
- Oh, ele está com fome... – Stella faz cara de lamentação, pega o guardanapo e vai colocando as polentas em cima, várias. Enquanto diz:
- Sei que esta não é a solução, mas, vou dar...
- Ah é isso...
Ela tenta entregar o guardanapo e o velho faz sinal de não.
Coloca as polentas uma a uma de volta no prato rapidamente.
- o que tu queres então? !- braba.
- Eu tenho um amigo...
- Sai daqui, sai, sai... – fez sinal de não – sai daqui, vaza!!!- agora gesto de despejo.
As garotas se entreolham.
- o que foi isso?
- Não sei.
Stella coloca as mãos na boca e fica pensando. Ultimamente tem pensado demais. Só pensa, não reage.
Stella olhava ao redor, tocava “ Boate Azul”. Na rua carros passavam aumentando a velocidade, para aparecer na frente do bar. Stella tenta cantar junto com a música. Muda de idéia:
- Não, não! É música de puteiro, na boate azul. É uma boate. Vamos no banheiro?
A outra garota não responde. Apenas segue. Stella abre a porta com cuidado, o banheiro está cheio. Começa a passar o batom fazendo bico:
- Vamos embora? Nem quero ir no banheiro. Está muito cheio. Estou com calor.
Elas sentam em uma mesa na varanda. Stella reclama do cheiro.
- É por quê tem muita gente, Stella.
- Não, é o cheiro da rua....
Pedem polenta e cerveja. Stellinha sempre pede a mesma coisa. Nunca muda. Tem desejo por polenta com cerveja. Nem se dá conta, sempre pede.
- Lilly já estou sentindo o gosto de polenta ! – dá um gole da cerveja e fala baixo, em tom de segredo- é como se estivesse comendo agora.
- Ah, está demorando demais, vou chamar o garçom.
Fica fazendo sinal. Stella só olha, olha ao redor para o outro lado, olha de volta. Lilly balança ambos os braços.
- o garçom nem me vê.
- É, tem que chamar, se não, não vem...
Lilly fala com um senhor que está na porta vendo tudo:
- Chama o garçom? Ih, ele não ouviu.- Virando-se para Stella.
- Deixa, deixa.
- Oh Stelinha! Nossa polenta está vindo!
Stella sorri. Nisso o velho vem em direção à mesa.
Pára de sorrir de imediato.
- Oh não. – coloca o sal.
- ele está vindo aqui. O que será que ele quer? – dá uma risadinha irônica.
- Visse?! Conseguisse o que tu querias, agora dá um jeito de dispensar!
O velho é pior do que se via de longe, balbuciava coisas incompreensíveis, dentre elas a palavra: Petisco! - no final das frases.
- o que é isso?
- Oh, ele está com fome... – Stella faz cara de lamentação, pega o guardanapo e vai colocando as polentas em cima, várias. Enquanto diz:
- Sei que esta não é a solução, mas, vou dar...
- Ah é isso...
Ela tenta entregar o guardanapo e o velho faz sinal de não.
Coloca as polentas uma a uma de volta no prato rapidamente.
- o que tu queres então? !- braba.
- Eu tenho um amigo...
- Sai daqui, sai, sai... – fez sinal de não – sai daqui, vaza!!!- agora gesto de despejo.
As garotas se entreolham.
- o que foi isso?
- Não sei.
Stella coloca as mãos na boca e fica pensando. Ultimamente tem pensado demais. Só pensa, não reage.